SÃO PAULO (Reuters) - Estagnação econômica, inflação resiliente e aumento do risco de déficit orçamentário no Brasil colocam em risco a expansão de uma década nos empréstimos imobiliários, minando uma das maiores fontes de financiamento para o setor, de acordo com um relatório da indústria.
O montante dos empréstimos imobiliários
financiados com dinheiro do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE)
subiu 3,4 por cento no ano passado, o menor nível desde 2003.
Vulnerabilidades macroeconômicas ameaçam a
sustentabilidade do SBPE nos próximos anos, de acordo com um relatório da
empresa de pesquisa de finanças estruturadas Uqbar Educação.
O aumento das taxas de juros está entre os fatores
que podem dificultar a alocação de recursos governamentais para o crédito
imobiliário e para o SBPE, disse o relatório. A empresa, com sede no Rio de
Janeiro, pediu o retorno de políticas econômicas sonoras, como forma de
garantir o crescimento sustentável do mercado no longo prazo.
"Uma vez que recuperarmos a estabilidade
macroeconômica, fontes de financiamento bancárias e do governo vão ganhar
força, ao lado de instrumentos do mercado de capitais", disse o relatório
ao qual a Reuters teve acesso antes de sua publicação na quarta-feira.
O relatório é o mais recente alerta de
especialistas sobre o aumento dos desafios enfrentados pelo Brasil na ainda
incipente indústria de empréstimo imobiliário.
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, está tentando
reverter a falta de regras do orçamento que caracterizou o primeiro mandato da
presidente Dilma Rousseff. Economistas esperam que cortes de gastos e aumentos
de impostos por Levy devem levar a economia temporariamente para uma recessão
antes de domar a inflação e restaurar a confiança.
Os empréstimos imobiliários expandiram-se mais
rápido do que outros tipos de crédito nos últimos anos, graças a um mercado de
trabalho robusto, quedas constantes em custos de empréstimos e melhora das
regras do setor. Alguns desses fatores, no entanto, estão agora mostrando
sinais de fadiga.
Os desembolsos para empréstimos lastreados pelo
SBPE podem subir 5 por cento este ano, muito longe dos 37 por cento de expansão
anual registrados nos últimos sete anos, disse recentemente a Associação
Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário (Abecip). O mercado de crédito
imobiliário mais frio não parece colocar qualquer risco sistêmico para os
bancos.
Excluindo a estatal Caixa Econômica Federal
[CEF.UL], a exposição do setor bancário brasileiro ao crédito imobiliário
continua baixa.
Por Guillermo
Parra-Bernal
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